O mundo do violino ficou mais triste na última semana com o falecimento da ilustre violinista Ida Haendel. Pequena grande violinista, Ida era sinônimo da longevidade com o instrumento — estudou e tocou violino por quase 80 anos de sua vida. Neste post, abordaremos fatos e curiosidades sobre sua trajetória pessoal e sua carreira como a grande diva do violino do século XX.
Nascida em uma família judia na cidade de Chełm, Polônia, até hoje há controvérsias quanto ao seu ano de nascimento. Algumas fontes falam em 1923 ou 1924, no entanto, segundo Ida, esta confusão surgiu em um concerto em Londres no ano de 1937, quando o seu empresário foi informado minutos antes do início do evento que só poderiam tocar neste local pessoas com idade acima dos 14 anos. Ida tinha apenas 9 anos nesta época e, por isso, houve a ideia de modificar sua data de nascimento para que não houvesse o cancelamento da performance. Neste mesmo ano (1937), Ida mudou a escrita do seu sobrenome de “Hendel” para “Haendel” por sugestão de seu empresário, para evocar uma associação com o famoso compositor Georg Friederich Haendel.
Filha de Nathan e Fela Hendel e irmã mais nova de Ala, também conhecida como Alice, Ida foi “batizada” com — pasmem! — um nome masculino: Isaac. Isso porque seus pais estavam convencidos (durante a gravidez da mãe de Ida Haendel) que teriam um menino e decidiram homenagear o avô materno. Quando veio ao mundo uma menina, eles decidiram homenageá-lo mesmo assim, e Ida Haendel, na verdade foi registrada como Isaac Hendel (!).
Ida Haendel iniciou seus estudos com aproximadamente 3 anos de idade e por volta dos 5 ganhou uma medalha de ouro em competições no Conservatório de Varsóvia e no 1º Concurso Bronislaw Huberman tocando o concerto de Beethoven! Aos 7 anos, competiu contra grandes nomes da época como David Oistrakh e Ginette Neveu no 1º Concurso Henry Wieniawski, sendo, inclusive, laureada pela banca com o Prêmio Polonês, ficando em 7º lugar geral. Neveu foi, inclusive, amiga e mentora de Ida até 1949, quando faleceu prematuramente em um trágico acidente de avião. Entre os professores de Ida Haendel encontram-se nomes célebres como Carl Flesch e George Enescu.
Em 1949, após tocar o concerto para violino de Jean Sibelius em Helsinki, Ida Haendel recebeu uma carta do próprio compositor, dizendo o seguinte: “Você tocou meu concerto maravilhosamente, em todos os aspectos! Eu parabenizo a mim mesmo, por meu concerto ter encontrando uma intérprete de tão raro padrão como você”.
Ida Haendel nos deixou uma grande quantidade de gravações maravilhosas em áudio e vídeo, tendo gravado com grandes gravadoras como Decca, EMI, Harmonia Mundi e Testament Records. Além do repertório canônico do violino, Ida era uma grande entusiasta da música contemporânea (que hoje chamamos de música moderna), tendo interpretado obras de compositores como Béla Bartók, Benjamin Britten, William Walton e George Enescu, além de ter estreado obras de Luigi Dallapiccola e Allan Pettersson.
Além de exímia violinista, Ida Haendel era extremamente vaidosa, adorava roupas e sapatos, e já acordava arrumada para o café da manhã! Como alguns músicos de seu tempo, Ida deu recitais para exércitos das forças aliadas durante a 2ª Guerra Mundial, como forma de motivar e aliviar a tensão psicológica dos soldados e, também, de contribuir de alguma forma nesse período terrível que o nosso mundo passou.
Depois de uma bela carreira de aproximadamente 70 anos, Ida Haendel nos deixou, aos 91 anos, no dia 1 de julho de 2020, depois de lutar contra um câncer nos rins. Apesar de não estar fisicamente presente entre nós, Ida vive através do lindo legado que construiu durante toda sua vida. E, por fim — parafraseando um excelente documentário sobre ela — embora Ida tocasse em um maravilhoso Stradivari, ela era o próprio violino.