Tradução do capítulo “A few words for the teacher” do livro Principles of Violin Playing and Teaching (1964), de Ivan Galamian.
Ao concluir com algumas observações para o professor, reitero o que mencionei no princípio deste livro — alunos não são iguais e não deveriam ser tratados como se fossem iguais; e ensinar de acordo com regras rígidas é ensinar de forma errada. O professor que leva sua missão a sério verá em cada aluno um problema completamente novo e desafiador. Primeiramente, o professor deve estudar o aluno para obter uma impressão clara de sua forma de tocar, sua musicalidade e sua personalidade. Deve descobrir tanto seus pontos fortes como fracos. Deve julgar as potencialidades do estudante e verificar se há obstáculos que se interpõem no caminho de seu desenvolvimento e descobrir se ele apresenta maus hábitos ou tendências perigosas. Aspectos como articulações ou dedos fracos devem ser observados. Ao julgar maus hábitos, o professor deve ser sábio e manter a mente aberta o suficiente para não considerar como mau hábito tudo aquilo que não se adequa exatamente à sua forma pessoal de tocar. O professor não deve buscar descumprimento das regras, mas tentar encontrar os verdadeiros obstáculos que necessitam ser superados.
Uma vez feito o diagnóstico do aluno, o professor deve, então, decidir o que precisa ser feito: quais são as limitações a serem trabalhadas, por onde pode começar a construir, quais aspectos da execução estão subdesenvolvidos e precisam de maior cuidado ou ênfase que outros.
A decisão de como e quando se fazer todas essas coisas, entretanto, deve ser baseada sobre um julgamento da personalidade do estudante. É por isso que é tão importante que a atitude do professor seja muito pessoal e que ele analise a personalidade de cada um dos seus alunos adequadamente. Isso pode levar semanas – em alguns casos, meses – mas uma vez que o professor tenha adquirido o conhecimento necessário, ele pode planejar com maior segurança o tipo especial de tratamento que trará resultados mais rápidos e satisfatórios.
O professor deve ser um bom psicólogo. Deve ter cuidado para não desanimar o estudante e deve saber que existem momentos em que é aconselhável corrigir e outros em que não é conveniente fazê-lo. Neste último caso, o professor deve adiar as correções até que chegue o momento propício. Ele deve ser capaz de julgar, em tais casos, o que é importante ser tratado imediatamente e o que pode ser deixado para depois. Acima de tudo, o professor não deve tentar fazer muitas coisas de uma só vez. Nossa capacidade de absorver novas informações é limitada e uma atitude excessivamente ambiciosa do professor de resolver muitas coisas simultaneamente levará a resultados negativos.
Outro aspecto que deve ser cuidadosamente planejado é o encorajamento do estudante e a construção de sua autoconfiança. O professor deve perceber, em cada caso particular, quando é necessário oferecer apoio moral em forma de elogios e reconhecimento e quando deve ser rigoroso em suas censuras. Alguns estudantes, especialmente os tímidos e esforçados, progridem quando lhe são oferecidos uma boa dose de elogios e incentivos. Este mesmo tratamento pode ser extremamente prejudicial se aplicado a outros tipos de alunos, fazendo-os se acomodarem. Promover a autoconfiança do estudante cedo demais pode ser quase tão perigoso quanto não nutri-la de forma alguma. Um tratamento severo funciona muito bem com alguns alunos, enquanto é perigoso para com outros.
Tudo o que o professor fizer, qualquer que seja o tipo de tratamento aplicado, deve ser feito com a cabeça fria e de maneira estratégica. Caso ele perceba, por exemplo, que um determinado estudante seria muito beneficiado por uma repreensão, ele deve fazê-lo de acordo com o planejado. Isto é completamente diferente de ter a mesma atitude em um ataque de aborrecimento – algo que nunca deveria acontecer em um relacionamento professor-aluno.
O professor deve saber que cada estudante passa frequentemente por fases de resposta variável. Ele deve pressentir os períodos de especial produtividade e obter o máximo de proveito possível deles.
No ensino, assim como no estudo, deve haver um equilíbrio entre “construção técnica” e “interpretação”. Enfatizar somente o aspecto interpretativo resultará em negligência da técnica, enquanto uma preocupação exclusiva sobre elementos técnicos inibirá a imaginação, assim como a habilidade espontânea de se fazer música. O equilíbrio entre esses dois fatores deve variar nos diversos estágios de desenvolvimento do aluno. Nos primeiros anos, o professor deve ter como prioridade a construção dos mecanismos técnicos. Ele não deve negligenciar o crescimento musical, mas o fator construtivo deve ser a base. Não há limite de idade para o desenvolvimento da musicalidade, contudo a infância é o período em que a técnica se desenvolve mais rápido. Em um estágio posterior, quando a técnica está consolidada sobre firmes fundamentos, a balança pode ser alterada em favor do elemento interpretativo.
No que se refere à abordagem da interpretação no ensino, argumentamos anteriormente que o professor comete um grave erro quando insiste em impor ao estudante sua própria e individual visão de cada obra musical. Em vez disso, o professor deve encorajar e inspirar o aluno avançado à uma interpretação independente e pessoal da obra, guiando-a quando necessário, de maneira a conformá-la aos princípios estéticos de bom gosto, estilo e forma. Aqui, como em todos os outros aspectos, o principal dever do professor é educar o aluno a fim de torná-lo independente, tanto musical quanto tecnicamente.
Quanto à escolha do material a ser utilizado no processo de ensino, nenhum plano específico pode ser oferecido, já que tudo deve ser adaptado às necessidades individuais de cada estudante. Já foi mencionada a importância das escalas e de exercícios relacionados para a construção dos mecanismos técnicos e, especialmente, para o desenvolvimento da correlação. Estudos são também muito importantes, pois constroem a técnica em um contexto musical, e muitos dos estudos tradicionais podem ser utilizados beneficamente para essa finalidade.
Em relação ao repertório, o professor deve ter como objetivo oferecer ao estudante a maior variedade e versatilidade possível, fazendo-o estudar obras de todos os estilos, tipos e períodos musicais. O professor não deve tomar o caminho da menor resistência, oferecendo ao aluno apenas aquelas obras que lhe vão melhor por natureza. O repertório deve ser o mais completo possível para todos os estudantes, a fim de que qualquer desenvolvimento unilateral seja evitado.
Para fins de estudo, os pontos fracos devem ser especialmente trabalhados. Para performances públicas, entretanto, é mais sábio escolher um programa que seja adequado à personalidade do estudante e que demonstre suas maiores virtudes e habilidades.
Não há dúvidas de que o professor, por sua vez, deve ter um profundo conhecimento do instrumento. Ainda, seu conhecimento não deve ser estar restrito ao repertório do violino. Se assim for, suas orientações interpretativas e musicais deixarão muito a desejar.
O professor deve ser consciente, paciente e de temperamento constante. Acima de tudo, deve ter verdadeiro amor e entusiasmo pelo seu trabalho. Ensinar bem requer uma boa dose devoção, que o professor é incapaz de oferecer a menos que dedique a isso seu coração e alma.