A leitura à primeira vista é uma atividade temida por muitos músicos, mas de fundamental importância para o nosso desenvolvimento musical. Requisitada em muitas provas de orquestras, concursos e vestibulares, esse tipo de leitura envolve uma série de habilidades cognitivas, perceptivas e técnicas do músico — por isso sua presença marcada em tantas avaliações. Neste post, explicaremos o que é a leitura à primeira vista, porque é importante estudarmos essa forma de leitura e ofereceremos também algumas dicas para você melhorar nesse quesito.

O QUE É “LEITURA À PRIMEIRA VISTA”?

A leitura à primeira vista pode ser definida como a execução musical de uma partitura nunca antes vista ou ensaiada pelo músico. Quando requisitada em provas e seleções, frequentemente é permitido que o instrumentista faça uma breve análise da partitura (para checar de antemão o que ele precisará executar), sem, no entanto, poder “ensaiar” a peça em seu instrumento antes da execução para a banca avaliadora. O tempo de preparação que antecede essa execução é variável, podendo ir de alguns segundos até alguns minutos, a depender também do tamanho do excerto a ser tocado.

Durante a execução da leitura à primeira vista é comum haver erros, sobretudo de notas ou de alguns padrões rítmicos específicos. No entanto, é importante que o músico consiga expressar aquela música o mais próximo possível do que seria sua execução de performance estudada, memorizada ou ensaiada. Isso significa aproximar-se ao máximo do andamento final, executar as dinâmicas e todas as indicações expressivas da partitura, evidenciar (se possível) o estilo da composição e, ainda, acertar o máximo de notas e ritmos possível. Super fácil, não é mesmo?!

Lembre-se que, quando falamos de leitura à primeira vista, o importante é o conjunto da obra — não adianta nada tocar as notas e o ritmo correto, mas em um andamento muito abaixo do que deveria ser, sem estilo, sem dinâmicas, sem expressão. Neste sentido, é melhor uma performance mais expressiva, em andamento próximo ao andamento final, com dinâmicas e estilo — mesmo que isso lhe custe algumas notas e ritmos equivocados.

PORQUE ESTUDAR LEITURA À PRIMEIRA VISTA É IMPORTANTE?

As vantagens do estudo da leitura à primeira vista não se limitam a uma mera aprovação em prova específica. Como escrevemos lá no início do nosso texto, uma boa leitura à primeira vista representa uma série de habilidades cognitivas, perceptivas e técnicas. Isso significa que, ao estudá-la, estamos desenvolvendo nossas habilidades musicais.

Quando damos alguma aula para um estudante que está executando um exercício ou repertório que nunca estudamos, para tocarmos algum exemplo na hora de corrigí-lo ou orientá-lo, provavelmente faremos uma leitura à primeira vista. Quando vamos a um ensaio de orquestra e há uma partitura nova sobre as estantes, com um maestro pronto para ensaiá-la, estamos fazendo uma leitura à primeira vista. Ou mesmo quando vemos a imagem de uma partitura e, apenas no passar de olhos sobre ela, já sabemos de que música se trata, estamos fazendo aquela análise prévia que antecede uma leitura à primeira vista.

Por falar nisso, que tal uma pequena brincadeira? Abaixo há quatro imagens de partituras de quatro músicas diferentes. Apenas olhando para elas (sem tocar nada no seu instrumento), você saberia dizer de quais músicas estamos falando? Depois de dar a sua resposta, clique nas legendas para conferir se você acertou:

Para realizar esse pequeno teste, foi necessário você ouvir na sua cabeça o som das notas escritas (como elas deveriam soar), identificar o ritmo, imaginar o andamento, e então buscar na sua memória alguma música com esses padrões. O que diferencia essa atividade da leitura à primeira vista propriamente dita é que, neste caso, após reconhecer todos esses padrões e ter a música na sua cabeça, você deveria, então, tocá-la.

Resumindo, as habilidades de uma leitura à primeira vista são requisitadas em várias circunstâncias e atividades do músico — em aulas , ensaios, provas, e até mesmo no estudo diário. Há momentos em que não temos tempo de preparar uma música dissecando os seus detalhes e precisaremos de realizar uma leitura à primeira vista, seja para prepará-la em menos tempo ou para ter uma visão geral da obra antes de se dedicar ao estudo minucioso de suas partes.

DICAS PARA VOCÊ MELHORAR A SUA LEITURA À PRIMEIRA VISTA

A leitura à primeira vista é frequentemente negligenciada nos currículos escolares. Por isso, é bom você buscar meios próprios para praticá-la. Uma boa forma de começar é tornando-se um integrante de alguma orquestra ou grupo de câmara — os ensaios de repertório novo constituem uma ótima forma de se praticar a leitura à primeira vista.

Uma outra forma de aprimorar a sua leitura é separar um breve momento dos seus estudos para pegar partituras na internet (por exemplo, no site do IMSLP) de obras que você nunca tocou e executá-la junto com o vídeo ou áudio de uma orquestra tocando essa obra. Comece por obras mais lentas e só depois de ter praticado algumas vezes arrisque-se tocando composições mais rápidas.

Outras práticas que beneficiam muito a nossa leitura é o solfejo e a leitura rítmica. Pratique-os com frequência!

ANTES DE COMEÇAR A LEITURA,

  • Observe quem é o compositor e qual o título da obra (para que você se norteie quanto ao estilo de época);
  • Verifique a indicação de andamento ou metronômica e sinta as pulsações durante a análise do ritmo da música;
  • Não se esqueça de checar a armadura de clave e/ou a tonalidade da obra musical em questão!
  • Busque pelas indicações de dinâmica e expressão;
  • Veja se há alguma mudança de andamento ou caráter no decorrer da obra;
  • ritornellos ou repetições?
  • Existe alguma passagem difícil tecnicamente? Pense como você pode solucioná-la durante a execução — que dedilhado ou arcada favoreceria a execução desse trecho?

DURANTE A LEITURA,

  • Mantenha-se tocando. Não pare por nada nesse mundo! Vá até o final, mesmo se em alguns trechos você só consiga acompanhar a pulsação da música;
  • Mantenha o pulso. É comum os músicos (principalmente estudantes) abaixarem o andamento em trechos difíceis — não seja um deles!
  • Reconheça padrões rítmicos e melódicos (“Olha! Ali tem uma escala de Lá Maior, ali tem um arpejo de Dó Menor, aquele é o acorde Sol Maior, o ritmo aqui é sincopado e no outro trecho tudo está no contratempo”, etc.);
  • Identifique frases e cadências. Durante a sua análise mental, cante na sua cabeça a melodia e verifique onde as frases começam e terminam. Isso acrescentará expressividade à sua execução;
  • Leia sempre à frente. Se você está tocando um compasso, seu olhar já deve estar direcionado para o próximo. É como quando lemos um texto em voz alta — não lemos palavra por palavra: enquanto estamos lendo uma, nosso olhar já está direcionado para decifrar a próxima;
  • Não desvie o olhar da partitura para o instrumento. Olhar fixo na partitura sempre, para você não se perder!

Estamos chegando ao fim do nosso texto e esperamos que essas dicas lhe tenham sido úteis. Assim como qualquer outra habilidade, uma boa leitura à primeira vista é perfeitamente alcançável — basta experiência e treino. Bons estudos!