Todo mundo sabe que a melhor maneira de se tocar bem um instrumento é estudando, não é mesmo? O que muitos não sabem, no entanto, é que existem formas adequadas e formas inadequadas de se estudar — ou seja, o bom e o mau tipo de estudo. Neste post, vamos te ajudar a compreender a maneira correta de se estudar falando dos 13 erros mais comuns que os aprendizes de música comentem ao estudar o instrumento.
1. Sempre começar do início
É muito comum observarmos estudantes que todos os dias começam a estudar exercícios, estudos ou repertório sempre da capo (ou seja, do início) — alguns, inclusive, sequer chegam ao final da página quando estudam. Resultado: o início dos estudos ou das peças está sempre bem trabalhado e bonito; o final, um desastre. Portanto, organize-se e distribua o seu tempo de estudo de maneira mais homogênea entre as seções da obra em estudo, de forma a garantir que o todo estará igualmente bem feito. Se em determinado dia você conseguiu apenas trabalhar a primeira página do seu repertório, no dia seguinte, foque na segunda página; se na segunda-feira você trabalhou o exercício X de Mazas do início, na terça, leia-o das últimas pautas em direção à primeira e assim por diante.
2. Repetir do início quando se errou no meio
Este item está diretamente relacionado ao mal hábito apontado no primeiro erro. Você está estudando, tudo correndo bem e, de repente, você erra. Depois da aparente confusão no trecho, você decide voltar do início, para tentar de novo. Quando você vai chegando próximo ao mesmo lugar… erra novamente! Quem nunca passou por isso?! A questão é que, dessa maneira, a gente não resolve o real problema e sempre conta com a sorte para aprendermos e solucionarmos nossas dificuldades. Para que isso não aconteça, isole o trecho problemático, encontre a causa do problema e solucione-o. Depois de resolvido, toque do início DAQUELA pauta do ponto-problema ou do compasso anterior, para garantir que, no contexto, aquele trecho vai sair.
3. Tocar do início ao fim aos trancos e barrancos, sem parar, todo dia
É muito fácil identificar alunos que estudam desta maneira: semana após semana eles entram na sala de aula e tocam as peças inteiras, do início ao fim, mas sempre passando por cima de problemas — uma performance repleta de desafinações, problemas de sincronia e articulação, errando-se as mesmas notas de aulas anteriores e tantos outros probleminhas que poderiam ser solucionados com certa facilidade se o estudo fosse feito de maneira sistemática. Estudar é como montar um quebra-cabeças: primeiro a gente precisa das peças (ou seja, dividir a obra e praticar por trechos, identificando e superando as dificuldades técnicas de cada seção), para depois ir encaixando cada parte com a outra (juntando-se os trechos previamente estudados isoladamente) até conseguirmos enxergar a imagem toda (i.e. a performance musical).
4. Repetir o trecho errado inúmeras vezes do mesmo jeito
Muitas vezes nós percebemos que erramos, isolamos o trecho e utilizamos a estratégia da repetição para resolver o problema da passagem em questão. No entanto, estudar o trecho-problema repetindo-o de maneira sempre igual esperando ter um resultado diferente é um esforço em vão! A repetição contínua de um trecho ou peça musical só deve ser utilizada quando conseguimos executar aquela passagem ou obra de maneira satisfatória, correta e consciente para a fase de estudo em que estamos inseridos. Frequentemente, antes da repetição, nós aplicamos outras técnicas de estudo que nos permitem alcançar o resultado desejado de maneira mais eficiente.
5. Não aplicar técnicas de estudo
Este item está TOTALMENTE relacionado ao que falamos acima. A maioria das pessoas conhece e aplica somente duas técnicas de estudo no dia-a-dia com o instrumento: a repetição e (às vezes) o estudo lento (em andamento abaixo do original). No entanto, existem muitas outras estratégias, como: as variações rítmicas, a acentuação de determinadas notas, a técnica da progressão, o processo A, o estudo polifônico e muitas outras! Inclusive, temos um vídeo mais antigo do canal em que abordamos e exemplificamos 16 dessas técnicas (clique aqui para assistir). As estratégias de estudo são as melhores ferramentas para lapidarmos a técnica e superarmos nossas dificuldades — utilize-as!
6. Estudar muito mais as partes que estão boas (ou as que você mais gosta) e negligenciar as mais complicadas ou chatas
Toda peça tem trechos mais fáceis (ou que achamos mais bonitos) e outros mais difíceis (ou que não nos emocionam tanto). Temos que nos vigiar para não despendermos muitos mais tempo naquelas partes que gostamos ou que tocamos bem, correndo o risco de negligenciar as passagens que precisam de um estudo mais minucioso. Haverá dias em que será necessário focar exclusivamente nos trechos chatos, complexos ou problemáticos, para que tenhamos um bom nível de qualidade na obra inteira.
7. Não utilizar metrônomo
Já viu alguém que corre nos trechos fáceis e desacelera nos difíceis? Pois é. Na maioria das vezes, isto é resultado da falta de estudo com o metrônomo ou de uma aplicação equivocada desse aparelho (ou aplicativo) que tanto nos ajuda a construir o ritmo e andamento da nossa performance. Nós necessitamos de um parâmetro de comparação ou um balizador para o aspecto rítmico e o metrônomo é a melhor ferramenta para este processo. Por isso, separe sempre um momento do seu estudo daquela peça ou exercício para fazê-lo com o metrônomo, por mais “doloroso” que seja este processo.
8. Estudar somente um aspecto técnico
Em determinados momentos da nossa trajetória musical é normal focarmos em algum aspecto que está mais defasado em relação a outros. Mas há estudantes que só praticam escalas, afinação, corda solta ou uma determinada técnica de arco, por exemplo. A longo prazo, isso acaba por limitar o nosso domínio e desenvolvimento técnico. Por isso, é extremamente importante termos uma visão global e analítica do nosso estudo, eliminando as “neuras” e favorecendo um desenvolvimento saudável de todas as nossas habilidades musicais.
9. Não registrar informações importantes na partitura (acidentes que você costuma errar, mudança de dedilhados ou arcadas, etc.)
Sabe aquela nota que você sempre confunde o acidente ou aquele dedilhado maravilhoso que você descobriu, mas nunca toca porque não anotou? É o clássico problema de não anotar informações relevantes. Se você tem um problema com determinada nota, escreva o respectivo acidente em cima dela para que não haja dúvidas durante o estudo. O mesmo vale para dedilhados, arcadas e para qualquer outra informação importante, para você não esquecer!
10. Focar só no instrumento, esquecendo outros aspectos musicais como história da música, estilo, percepção, análise, etc.
Todos nós começamos a estudar um instrumento musical para fazer música, é verdade. E é exatamente por isso que muitos músicos acabam se incomodando com outras disciplinas de cunho mais teórico, como harmonia, percepção musical ou história da música, considerando-as descenessárias ou irrelevantes para a sua prática. Entretanto, esta é uma visão limitante. Ao desconsiderar a música como uma união desses diversos aspectos, acabamos fazendo performances fora de estilo, com problemas rítmicos e desafinações, entre outras possibilidades. Portanto, estude música para além dos aspectos técnicos do seu instrumento!
11. Não identificar a origem do problema
É relativamente fácil percebermos os nossos erros ou deficiências técnicas, mas identificar a real causa do problema nem sempre é tão simples. A gente percebe que está desafinado, mas não sabe ao certo porque aquilo está acontecendo — a mão está alta? Baixa? Foi a mudança de posição? Ou o ângulo de caimento dos dedos? Será que as cordas do instrumento não desafinaram por causa do clima ou da umidade? O primeiro passo para solucionarmos esta questão é uma análise profunda das causas dos problemas que estamos enfrentando para, então, traçarmos uma estratégia de estudos eficiente que nos leve ao resultado desejado. Seja seu próprio professor, analise-se constantemente!
12. Só tocar o tempo inteiro, não estudar
Existe uma grande diferença entre estudar e tocar e precisamos encontrar satisfação nas duas coisas, porque ambas são complementares! É muito fácil gostar de tocar e é o objetivo de todo instrumentista, porém, para uma performance de qualidade, o estudo consciente e deliberado é o caminho mais curto. Por isso, aprenda a gostar de estudar e não gaste todas as suas horas de estudo fazendo apenas performances particulares para você mesmo.
13. Não estudar os fundamentos técnicos básicos
Pode parecer muito chato estudar escalas, arpejos, Sevcik, Schradieck, Sitt, Dont, Mazas, Kreutzer e outros tantos materiais técnicos básicos, mas aqui estão os fundamentos de qualquer obra complexa. É imprescindível que tenhamos em nossa rotina de estudos um horário reservado à prática de fundamentos técnicos, pois isso nos fortalece e nos mantém em forma. O complexo nada mais é do que um emaranhado de coisas simples. Lembro-me até hoje de uma frase que meu professor me disse: “não importa o quão avançado você seja, sempre estude os fundamentos técnicos básicos”.
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