O ensino do violino é uma área de atuação muito fértil, já que há sempre pessoas querendo aprender o instrumento e, portanto, muitos violinistas trabalham como professores por diversas razões. Pela desvalorização que nossa profissão tem no âmbito brasileiro, músicos estão sempre correndo atrás de formas de sustento e uma grande parte deles recorre às aulas particulares para poder pagar suas contas. E até aqui, não há problema algum nisso. A questão é que, nestas circunstâncias, muitas vezes surgem professores despreparados e não vocacionados à transmissão do seu conhecimento. Neste artigo, mostraremos para vocês vários tipos de professores e suas características, baseados no 4º capítulo do livro The Art of Violin Playing: Book Two – Artistic realization and instruction de Carl Flesch (1930), intitulado Teaching.

O primeiro tipo de professor é o egocêntrico. Muitas vezes, um excelente violinista, de personalidade artística forte, mas que não tem paciência para ensinar e quer criar uma cópia de si mesmo em seus alunos. Ou seja, é um professor que imprime suas próprias características no aluno, mesmo que ele não as possua. Resultado: não há individualidade ou personalidade em seus alunos.

O professor colérico é aquele que explode por qualquer erro bobo e não pondera sobre o que fala, transformando pequenos problemas em uma verdadeira tempestade em copo d’água. Por sua intransigência, interrompe constantemente o aluno, que não consegue compreender o todo da obra, gerando uma visão fragmentada sobre a sua forma de tocar e, também, sobre a música. Todos os erros são corrigidos imediatamente, no meio da performance, perdendo-se a conexão entre as partes que compõe a peça.

O solista frustrado é aquele tipo de professor que toca do início ao fim da aula — um verdadeiro demonstrador profissional! Essa figura não vê o ensino como uma arte e, sim, como um trabalho braçal e mecânico e, por isso, não dispende muito interesse na formação de seus alunos. Suas “explicações” são todas não-verbais, traduzindo-se em performances privadas, que tem causas em sua preguiça intelectual e na ânsia de aproveitar o tempo da aula para estudar e, consequentemente, não “perder tempo”. Por esses motivos, seus alunos tornam-se apenas imitadores, que não desenvolvem sua própria personalidade — muito similar ao que acontece com os estudantes do professor egocêntrico.

Há ainda os tocadores de uníssono, que tocam junto com os alunos da primeira à última nota da aula e, por isso, não ouvem de fato o que o aluno toca e nem mesmo fornecem uma base harmônica para eles. A única coisa que este professor percebe são as discrepâncias entre o que ele e o seu aluno toca, mas não consegue discernir quem está errado. Sua estratégia de “ensino” é só uma forma de matar tempo, dar uma estudada e evitar a cuidadosa observação do aluno. Em suma, trapaça. No entanto, frisamos aqui que tocar junto com o aluno em alguns momentos é benéfico, mas é preciso saber quando e como fazer isso.

Temos, também, aquela figura que SEMPRE chega atrasada para dar aulas, interessa-se mais pelo movimento da rua, pelas notícias no celular e posts nas redes sociais do que pelo aluno em si e, para passar o tempo da aula, puxa papo sobre diversos assuntos aleatórios. Este é o professor displicente. Seus conselhos e orientações são sempre os mesmos: “você tem que estudar melhor, estudar por mais tempo, estudar mais lento, estudar mais rápido”, mas NUNCA explica como o aluno deve, de fato, estudar. Além disso, este personagem frequentemente desenvolve uma camaradagem com os alunos, que no futuro percebem o quanto foram prejudicados e tiveram seu tempo desperdiçado. Vêem que, na verdade, essa “amizade” escondia a preguiça, a indiferença e o desinteresse do seu professor. Mais uma vez, ressaltamos que não há problema algum em ter uma relação saudável e próxima com o seu professor, ter liberdade para conversar sobre qualquer assunto de interesse mútuo, desde que isso não interfira no aprendizado e nas aulas.

Muitos desses tipos de professores demonstram claramente falta de vontade na hora da aula. Mas há também aquele professor sem talento, que nas palavras de Carl Flesch, podemos enxergar como um professor sem preparo. Esse sujeito tem a origem do seu problema na falta de domínio e preparação para ensinar os outros e, embora, muitas vezes este professor possa ser um exímio violinista, ele não sabe como passar adiante o seu conhecimento.

O professor literário é aquele que fala muito, toca pouco e, muitas vezes, acaba impedindo o aluno de tocar com suas “palestras semanais”. É um “bom” exemplo de violinista-teórico: dá aulas de história da música e análise, mas não foca nos problemas urgentes do instrumento. Não há problema algum em levantar alguns aspectos históricos e analíticos que estão relacionados ao repertório do aluno. O que não é certo é consumir todo o tempo da aula com esses assuntos, desviando a atenção de problemas violinísticos existentes. Mas o professor de instrumento deve, sim, incentivar seus alunos a estudarem, pesquisarem, lerem livros e terem uma formação musical completa e ampla, pois é muito comuns que os alunos apenas estudem violino (o que também não é o ideal).

Há outros professores, entretanto, que têm conhecimentos da técnica e do repertório do violino, que analisam seus alunos e observam os três aspectos básicos que TODO bom professor de violino deve se atentar: qualidade da afinação, qualidade e clareza da produção sonora e a precisão rítmica. Entretanto, o professor monomaníaco só enxerga uma causa para qualquer problema que o aluno tenha: o uso ou não de espaleira, o posicionamento do violino, a pega de arco, o peso ou a qualidade do arco; fazendo-o pensar que todo problema de sonoridade ou arco deve ser resolvido estudando horas de cordas soltas, etc. Em suma, este professor só atribui a aspectos secundários a origem primária dos problemas violinísticos.

E não poderíamos finalizar este artigo se apresentamos também as características do bom professor, não é mesmo? O bom professor é aquele que entende que ensinar é transmitir para outros o seu conhecimento acumulado e possui um extremo cuidado e responsabilidade para com o aluno neste processo. Ele não pensa em sua atividade como profissão ou seu ganha-pão, mas em primeiro lugar como uma vocação, uma razão de ser e um importante pilar em sua vida; é uma pessoa calma, que possui autocontrole e nunca fala em momentos de raiva; corrige com seriedade, mas sempre com educação e respeito; conhece bem o instrumento e consegue executar suas intensões musicais. O bom professor ajuda o aluno a alcançar seus objetivos, considerando e respeitando a personalidade de cada um, levando sempre em conta os aspectos físicos e emocionais do estudante em suas orientações. Ele analisa atentamente o seu aluno, identificando a real origem dos problemas para poder remediar as dificuldades. Equilibra elogios e críticas de forma cuidadosa para não desestimular ou estimular demasiadamente o ego do estudante, sabendo o correto momento de aplicá-los.

Conta pra gente: durante a leitura do artigo você se identificou com algumas características dos tipos de professores ou lembrou de algum de seus mestre de formação violinística?!